28 de dezembro de 2009

ignorância

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Conhecimento não é nada diante da determinação humana.
Entenda determinação como teimosia. Você sabe que é errado. Empiricamente e tecnicamente, você sabe que aquilo não deve ser feito. Você já passou por isso antes, conhece as conseqüencias. No entanto, você faz.

A diferença entre aquele que sabe e o ignorante é que aquele que não sabe não sente culpa. O superego dele não vai entrar em cena, não vai dizer como aquilo é prejudicial e não vai tentar te demover dessa idéia. Aquele que detém o conhecimento vive em uma guerra interna permanente entre os seus desejos e sua consciência.

Mecanismo de defesa da vez: racionalização. Dezenas de argumentos instintivamente formulados para tentar justificar o injustificável. A busca incessante por convencer a si mesmo de que aquilo é válido ou necessário ou inofensivo.

Você sabe que é errado.
Mas vale a pena[?].

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1 de novembro de 2009

sobre a maldade e o perdão

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Deve ser a tal da maturidade. Sair da bolha parece ser capaz de provocar algum surto de crescimento pessoal...

Espanto-me com a minha paciência, calma e capacidade de perdoar. Aceito tantas coisas inaceitáveis. Entendo, compreendo. Um sentimento de resignação quase patológico. Uma crença quase inabalável nas pessoas e na bondade humana(?).

Talvez eu esteja apenas sendo tola. Cerrei os despropósitos da vida nas grades do meu silêncio. E nessa ciranda de mágoas silenciosas, vou seguindo com o sorriso habitual e a cordialidade que a boa convivência entre os pares exige.

Ao contrário, porém, talvez devesse gritar, contar, discordar, não aceitar. Talvez devesse aprender a usar ao menos um pouco da maldade humana com a qual convivi. Talvez devesse deixar de esperar, pacientemente, por uma manhã em que as verdades sejam reveladas e o imperfeito seja desfeito. Talvez eu devesse sentir raiva, exigir explicações, cortar relações...


Talvez eu esteja apaixonada. E, então, nada disso importa.


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9 de outubro de 2009

prescrição

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É fácil me fazer feliz.

Me presenteie com um pacote de café com um laço de fita amarela. Me surpreenda com um pão de mel e um bilhete deixados na mesa da minha sala - coisas simples que fazem meu coração sorrir.

Me convide pra ver um filme da década de 50. Converse comigo durante toda a madrugada, os assuntos mais sérios ou mais irresponsavelmente inúteis. Me ensine a jogar poker, usando como fichas o dinheiro da comissão de formatura...

Gaste seu tempo comigo. Viva comigo, cada momento. Cada tarde regada a café forte e doce. Cada nascer do sol depois de uma desgastante e interminável discussão sobre o que eu quero da vida e de nós. Cada festa estranha, movida a vodka, música alta e fritas com queijo.

Me acompanhe até em casa, em silêncio. Me ouça cantarolar Tom Jobim e ache graça de como eu me divirto contando anedotas sem final feliz. Fique do meu lado quando eu estiver triste e cansada. E me abrace quando eu não for forte o suficiente e começar a chorar.

E depois de tudo isso, olhe nos meus olhos e diga como eu sou tudo aquilo que você nunca quis.


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15 de setembro de 2009

sitting, waiting, wishing

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Ele disse que eu não sei o que quero. E, embora tenha discordado veementemente, sou obrigada a concordar que, em partes, ele tem razão.

Admito minha volubilidade. Apenas me deixo guiar pelo vento que sopra em cada momento, me levando para direções diferentes a cada dia. Sem me prender a (quase) nada, vou vivendo e aprendendo a viver, de acordo com o que a própria vida me oferece.

Desisti de tentar moldar meu futuro conforme meus devaneios juvenis de amores perfeitos e amizades eternas. Desisti de fazer planos, de construir gigantescos castelos de ilusão e lágrimas, desisti de sonhar acordada com finais felizes doces e inverossímeis. E talvez tenha sido bem melhor assim. Quando parei de me preocupar com o que o que faria da minha vida, a vida encarregou-se de escolher o melhor para mim.

E nessa novela de encontros e desencontros, vou conhecendo as pessoas e descobrindo a mim mesma. Vou aprendendo a ter paciência, entendendo que algumas coisas merecem ser construídas paulatinamente, tijolo por tijolo, assentados com a argamassa da convivência e da confiança.

Hoje não mais me desespero se as coisas não saíram exatamente como eu desejava. Aceito, apenas. E espero, pacientemente, o dia em que a vida decidir que é a hora certa de sentir e sorrir.


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4 de agosto de 2009

café, política e um pouco mais.

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Procuro, em vão, expressões que possam, por ventura, revelar, ainda que superficialmente, a vida em curso e a paixão que arrebata os meus dias.

Diante do vazio significado das palavras banais, entendo, mais uma vez, que algumas coisas não podem – e não devem – ser descritas ou concretamente representadas. É, também, vã a busca pelas explicações racionais para tudo aquilo que foge à consciência. Mais uma vez, tento me despir do vicio vil de tentar entender o que necessita, apenas, ser vivido.

Viver, apenas. Talvez eu não esteja pronta para o hedonismo - as amarras ideológicas mantêm-me presa às convenções, instituições e proibições. E nessa luta diária contra os moralismos banais, entrego-me à força das ondas que me arrebatam para o mar das descobertas.

Permitir-me navegar ao sabor das marés levou-me de volta a velhos portos abandonados no passado. O vento levou-me de encontro às crenças que eu havia guardado no fundo da gaveta da adolescência, argumentando ser, apenas, um devaneio juvenil. Agora, anos mais tarde, o fantasma da utopia volta com força suficiente para convencer-me de que o tempo não é capaz de mudar um ideal.

Talvez caiba delegar os méritos por boa parte dessa força que me impele à vida. Embora eu tenha colaborado com a minha disposição em aceitar o novo, admito minha reles coadjuvância nesse processo. Agradeço, então, por ter sido resgatada do conformismo e por ter sido apresentada a um mundo que parecia estar à minha espera – ou eu à espera dele.

Agradeço também pela companhia, paciência, pelos cafés em tardes vazias, pelos lanches nas madrugadas de debates deliciosamente intermináveis. Agradeço pelas explicações e pelo entusiasmo absolutamente contagiante diante do meu pessimismo de praxe. Agradeço por me fazer, aos poucos, voltar a acreditar que é possível e que eu não estou sozinha. Agradeço pelo carinho, por me chamar de gordinha e por me fazer rir, bagunçando meu cabelo, enquanto me pergunta porque é tão bom estar ali.

Cada vez mais entendo que algumas mudanças são irremediáveis. As escolhas que fiz levaram-me a um novo lugar, meu, longe das amarras que me prendiam ao passado. E, embora mantenha alguns laços que considero impreteríveis e continue acreditando no valor supremo da família, meus passos me levam para longe de casa. Cada vez mais longe, até que eu esqueça o que é lar. Cada vez mais perto de um lugar que é meu.

Ao olhar para trás, vejo, ao longe, lembranças etéreas esvaindo-se no ar seco de agosto e recordações vivas, presas a mim pelo perfume em minhas roupas e pelo sorriso em meu rosto. E ao voltar-me ao horizonte a minha frente, me aquece a alma o calor do sol-vida que desponta na aurora desses novos dias.



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18 de julho de 2009

post it

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Algumas noites merecem um post.
Talvez porque é a maneira mais simples de registrar momentos que, por certo, irão se perder com o tempo, se misturando com outras, futuras ou já vividas.
Ou talvez para dar vazão a esse sentimento estranho que me acordou hoje - com um sorriso no rosto que não quer me deixar...
Algumas noites nos trazem gratas surpresas, capazes de transformar até os piores prognósticos em admiráveis finais felizes.
Algumas noites... é, grande noite.



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17 de julho de 2009

consciência [?]

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um dia eu ainda aprendo a não usar os outros para satisfazer os meus caprichos.



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15 de julho de 2009

e desde quando precisa fazer sentido?

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Instável. Meu humor, meus desejos, meus medos, meus sonhos... A cada dia, sentimentos - confusos, intensos e volúveis. Esse embate eterno entre meus valores e minhas vontades...

Mudei o perfil do orkut umas quatro vezes ontem à noite. E por fim, não consegui encontrar canção adequada ao 'quem sou eu'. Deixei em branco. O vazio é amostra do excesso. Tantas coisas não cabem em uma só.

Nas últimas semanas, perdi a conta de quantos posts escrevi e não publiquei. Me canso rápido do que escrevo: do início ao último ponto, tantas coisas já mudaram e eu não mais me reconheço naquilo que escrevi. Apago, deleto. E começo de novo, tentando transformar em prosa impressões borradas do momento fugaz...

No entanto, agradeço. Me agrada o excesso. Vida nunca é demais. Experiências, sensações, decepções - pulsando. O amanhã, incerto, me atrai. E então me entrego, braços abertos para abraçar o mundo. E me perco em mim. Meus pensamentos, confusos, rápidos. Planos, frases feitas. Música, música, música...

Saudade.

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10 de julho de 2009

growing

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msn, 2 da manhã.


Bisteka: você num vale nada, hein?!
Patricia: o problema é que nem todo mundo sabe lidar com o excesso de liberdade repentino... e não é assim tbm. algum valor eu tenho!
Bisteka: mas você aprende a lidar com isso... não é tão difícil assim! e é claro que tem seu valor... um golinho só... mas tem!
Patricia: tô começando a acreditar nessa historia de não valer nada. sem drama. tô mesmo.
Bisteka: tô brincando com você, viu?! você aprende! é só saber diferenciar algumas coisas.
Patricia: por exemplo?
Bisteka: às vezes você é um pouco ingênua... com um tantinho de malicia também! mas o equilíbrio você alcança conforme o tempo passa...
Patricia: como assim? isso lá é possível? ingenuidade com malícia?
Bisteka: seria o perfeito! todo homem quer uma mulher assim!
Patricia: ahh, mas é coisa da idade eu acho. pensa, eu tenho 19 anos. sou muito mais criança do que mulher.
Bisteka: às vezes é mais mulher do que criança.
Patricia: entendi.
Bisteka: e ser mulher não é ser necessariamente séria, sem brincar! mas acho que você não precisa se preocupar com isso. só não deixe de ser você mesma! isso é a tal maturidade pela qual você está passando agora...



e ele tem toda a razão.


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8 de julho de 2009

petit chanson

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E pelo visto,
vou te inserir na minha paisagem
e você vai me ensinar as suas verdades...



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28 de junho de 2009

DR

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E ontem eu aprendi que a vida tem que ser como propaganda da Avon:a gente conversa, a gente se entende.




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21 de junho de 2009

hello stranger

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Well stranger, I know nothing. I better take a time at this time. I know you said, but I’m sorry. I want to work it out. All my friends are also your friends. And that makes you less a stranger. And your name, I’ve hearded it somewhere, but I still want to work it out. With all do respect, your kisses make me mad. But don’t worry, I’ll keep my eyes on you. Why is this so weird, I feel I’ve known you for years. You can sleep, I’ll just keep my eyes on you. I’m already glad that I met you. I like to see life from your eyes. Doesn’t matter what awaits us. I will deal with that surprise. Even though I know you have a lot in your mind, the future, the pass and the planes you might fly. I just want to tell you, that this love is true. You’re a stranger, but you’re mine.



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14 de junho de 2009

enxugando gelo

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E eu desenvolvi uma paixão quase obsessiva por ‘Tudo o que sólido pode derreter’.
Talvez seja apenas mais uma das minhas fases, em que eu me torno fã incondicional e depois abandono as velhas paixões, substituindo-as por algum novo ‘achado’.

Mas o Tudo foi, de fato, um achado. Eu não tenho tido tempo para assistir tv, mas o hábito de ligar o aparelho assim que chego em casa – talvez para aplacar a dilacerante sensação de estar sozinha – me trouxe essa grata surpresa. Na verdade, posso dizer fui fisgada pela música absolutamente singular que emanava daquela caixinha. Poderia até afirmar que foi ao ouvir os primeiros versos de ‘As Coisas’ que eu me apaixonei.

Me apaixonei pela fotografia. Os tons de cinza e essa atmosfera ‘autumn in London’, combinando com a pele branco-nuvem do João Felipe, numa sinergia quase etérea. Me apaixonei pelos diálogos, pelas reflexões da Thereza e pelas passagens literárias, que na verdade são o viés de toda a história.

Mas, sobretudo, me apaixonei pela trilha sonora. Indie, em essência. Intimista e magistralmente arranjada, mostrando que o minimalismo musical é, quando bem executado, um mérito. Me apaixonei por aquela batidinha que entra pelos ouvidos e preenche a alma com uma sensação boa, reconfortante, me fazendo esquecer, por alguns segundos, do (louco) mundo lá fora. Quase um entorpecente.

Me apaixonei por Tiê e Sweet Jardim ‘e cada um por si, na sua própria bolha de ar’.
Me apaixonei por Vinicius Calderoni e ‘olhos tão repletos de te desejar’.
Me apaixonei por Érika Machado e ‘as coisas querem ser coisas que na verdade não são’ que eu canto compulsivamente há algumas semanas...

Talvez a paixão se arrefeça com o fim a temporada. Talvez eu pare de cantarolar o lalarálaiarará de Chá Verde. Talvez eu pare de procurar provas irrefutáveis de que o Marcos gosta da Thereza. Talvez eu pare de achar que o João Felipe é a cara do Edward.

E quando isso acontecer, será a prova de que – com o perdão do trocadilho – tudo o que é sólido pode derreter.


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11 de junho de 2009

debelatum est

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Me despeço dessa história e concluo:
a gente segue a direção que
o nosso próprio coração mandar.
E foi pra lá, e foi pra lá...



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hermanos

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minha admiração pelos cartunistas argentinos.
felicitaciones a Quino, Liniers e Pablo Holmberg, el Señor del Kiosco.

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9 de junho de 2009

caminho

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A vida tem me dado oportunidades demais. Muito mais do que eu mereço e muito além do que eu posso aproveitar. Na verdade, apenas me fez ver como o mundo é grande e cabe na palma da minha mão, se eu quiser.

Mas, diante das opções (usando, talvez, o termo mais indelicado para se referir a esse tema), algo cá, dentro de mim, tenta me convencer de que menos é mais. E essa força se faz agora presente nas mãos trêmulas, no frio na barriga, nos momentos de raiva inexplicável e na ansiedade incontrolável durante as longas noites que precedem o novo dia.

Relutei em aceitar o que eu sabia estar acontecendo. Medo. Diante de um abismo, não é possível saber se encontraremos a dor da queda ou seremos salvos por algum anjo distraído...

E então me rendi aos fatos. Reconheci que os meus tropeços nesse caminho que eu vinha trilhando tão confortavelmente são apenas sinais de que algo alterou o rumo dos meus passos.

Há algumas horas, sentada no fundo do auditório, entendi e aceitei que tudo o que eu estava sentindo e todas as besteiras que eu fiz no fim de semana tinham, de fato, um motivo.

E de mãos dadas com o medo de um futuro incerto, uma alegria estranha - daquelas que fazem escapar uma lágrima enquanto provocam o riso - tomou conta de todas as terminações nervosas do meu corpo.

Com um suspiro longo e forte, acreditei no que estava, literalmente, diante dos meus olhos.




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25 de maio de 2009

Fluoxetina 20mg

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E eu preciso mesmo aprender a controlar essa ansiedade.

E também preciso aprender a lidar melhor com o que está fora do meu controle. Mas não sei se a tática do ‘talvez tenha sido melhor assim/tudo tem seu tempo’ realmente funciona. Quando eu quero alguma coisa, eu quero agora.

Por isso acredito que três semanas é um tempo maior do que o suportável – para não dizer patológico. E essa sensação de estar deixando de viver/aproveitar muita coisa nesse interim é emocionalmente dilacerante...

Três semanas,
acho melhor eu parar de contar.



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24 de maio de 2009

instinto

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E a utopia de ser mãe volta, de tempos em tempos, e me faz repensar sobre a verdadeira dimensão de gerar uma nova vida.

Mas desta vez questionei os outros 50% do zigoto. E percebi que a minha vivência e meu ideal de figura paterna se tornaram verdadeiros beligerantes.

Se me orgulho de dizer 'pai e mãe, ouro de mina', também coloco em xeque a imprescindibilidade da figura masculina. Pela primeira vez repenso o verdadeiro significado do termo 'produção independente'.

Talvez seja uma responsabilidade grande demais ter que escolher um pai para os filhos. Não há nada que garanta a validade dos vínculos marido/mulher. Não a ponto de ser possível compartilhar com outra pessoa a incumbência de gerar, proteger e viabilizar a existência de um filho.

Em tempos de volubilidade emocional, onde o menor vento é capaz de desmanchar os laços entre os casais, não seria sensato condenar uma criança a ligar-se a um pai que pode tornar-se ausente, relapso ou não-afetivo. Os filhos não têm culpa.

E se o homem não é mais o responsável exclusivo pelo sustento das famílias, a figura da mãe-provedora deixou de ser uma utopia. A emancipação feminina está virtualmente completa...

Virtualmente. A perpetuação da espécie ainda depende dos gametas masculinos.

E eu tenho, dentro de casa, a prova maior de que ter um Pai é uma das grandes venturas da vida.

Fato é que minha incredulidade nas relações interpessoais não é capaz de suprimir o instinto materno. E também não vou reduzir [sarcasticamente] a participação masculina a simples detalhe técnico...



Que os anos façam-se luz nesse meu beco sem saída.



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21 de maio de 2009

finados

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Ontem assisti ao jogo do Timão em um bar da rodoviária.
Eu (tomando Tampico) e uns cinco caras bebendo cerveja e falando besteira.

Eles xingaram, vibraram, opinaram e me fizeram dar boas risadas com suas histórias e as expressões de raiva ou alegria toda vez que o Ronaldo pegava na bola.

Fui embora antes do jogo acabar.
O dono do bar teve que fechar mais cedo. Tinham que ir a um velório.

As velhas portas de metal enferrujado baixaram e aqueles homens se foram, cambaleantes, procurar outro lugar pra assistir ao fim do segundo tempo.

Eu fui para o meu ônibus.
Na viagem, morte, vida, futebol e cerveja se misturavam na minha mente absorta pelo sono.

O dono do bar nunca mais vai ver o amigo falecido.
E eu nunca mais vou ver aquelas pessoas que mudaram a minha noite.




Viver é ter aceitar a morte que chega mais perto a cada dia.
E morrer nem sempre é apenas deixar de estar vivo.



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muros

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Nunca fui um poço de cordialidade. Admiro-me até com as amizades que eu consegui conquistar no colegial. Algumas daquelas pessoas merecem um prêmio por me agüentar em todas as manhãs de mau humor e ainda serem meus amigos até hoje...

Hoje vejo que a tendência anti-social, que eu fazia questão de deixar explícita, era apenas um mecanismo de defesa. Eu tinha medo. Medo das pessoas, medo de ser magoada, medo de não ser aceita, medo de ficar sozinha. Para me proteger, fechei-me em copas, construindo muros altos para que ninguém visse quem era, de fato, aquela menina estranha atrás dos óculos...

Poucos conseguiram, verdadeiramente, transpor os muros que ergui. Alguns por insistência; outros, poucos, porque eu permiti. Para esses escolhidos, abri as portas da minha vida, da minha casa, da minha mente e do meu coração. As confidências, as lágrimas, os porres, os filmes, os micos, as tardes na escola, as brigas, as fotos... As mesmas fotos que hoje vejo na parede do meu quarto em Marília.

A Medicina me levou embora e criou barreiras talvez maiores do que os muros que eu outrora construí.
Ainda bem! Aquelas pessoas que estavam realmente próximas ficaram do lado dentro dos muros. Quanto às demais, os muros, a distância, o tempo e a vida se encarregaram de afastar ainda mais de mim.




Não sou de acreditar em destino, mas, na primeira semana de Marília, perdi toda a agenda do meu celular. Hoje, dois meses depois, o meu chip tem apenas os poucos números que eu realmente faço questão de ter. Obra do destino ou simples coincidência, aqueles nomes na minha agenda representam exatamente as amizades que as muralhas da vida ainda não puderam destruir.


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18 de maio de 2009

fugaz

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Quisera eu ter tempo para escrever tudo que penso,
pra treinar tudo que gosto,
pra estudar tudo o que preciso,
pra festejar tudo o que eu mereço
e pra viver tudo o que quero.


Quem determinou que o dia deveria ter apenas 24 horas
nunca teve 19 anos na vida!



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8 de maio de 2009

cultivando utopias

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Na estrada, voltando pra Franca, sonhando acordada com coisas que eu sei que não vão acontecer, o rádio me mostra uma realidade que não quero enxergar.

'Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia'

Por alguns segundos, reprimo meus pensamentos, tentando convencer a mim mesma das verdades que todo mundo diz. Mas acabo por sucumbir às fantasias. Essas divagações sobre um futuro incerto enchem minha alma de uma esperança palpitante e produzem em meu rosto uma expressão de felicidade que as outras pessoas no carro por certo não entenderiam.

Mas a música continua...

'Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora'

Eu fujo. Do carro para o céu anil dessa tarde quente de outono. Mentindo para mim mesma. Feliz com a minha ilusão particular.


A vida lá fora pode esperar.



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17 de abril de 2009

welcome to the jungle!

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Como é possível uma vida mudar tanto em apenas um mês?
Resposta única: Faculdade de Medicina de Marília.

Hoje, um mês depois do último post, escrevo com uma tranquilidade que causaria inveja a muitos monges tibetanos. Hoje, surpreendo-me comigo mesma e com a capacidade humana de aceitar, mudar e se adaptar. Hoje, relembro tudo o que vivi nesse último mês e sou obrigada a aceitar que foi muito mais intenso, doloroso e representativo do que tudo o que eu havia vivenciado no último ano. Não que 2008 tenha sido inútil, mas não posso negar uma tendência natural a apagar da memória todo o sofrimento dos últimos 12 meses.

Crescer dói. E não é a dor da osteocondrite da tuberosidade, sentida durante o estirão de crescimento. É uma dor visceral, crônica, que atinge a alma e o coração, desencadeando um processo irreversível de amadurecimento pós-adolescente. E comigo não foi diferente: se hoje eu escrevo nesse blog sem molhar o teclado é porque já chorei muito antes de chegar até aqui. E esse ‘até aqui’ é bem mais distante do que eu podia imaginar. Estudante de Medicina. Morando sozinha. Sozinha.

Sozinha com os 600 alunos da faculdade.
400 veteranos para decorar os nomes.
80 alunos na gloriosa XLIII.
Sozinha?

Hoje, um mês depois do último post, vejo o passado recente cada vez mais distante. Vejo que algumas poucas pessoas (especiais, em essência) vão permanecer e que muitas outras novas vão chegar. E vejo, com um certo receio típico de quem vislumbra o novo, que esse mês foi apenas respaldo técnico-estrutural para tudo o que ainda há de vir.



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17 de março de 2009

aceitando os fatos

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Meu pai me disse pra chorar. ‘Não precisa pagar de forte, não precisa fazer o que fez no shopping’. Pai conhece o filho que tem.

Segurar o choro vem se tornando minha especialidade – uma das mais idiotas de todas as minhas habilidades. E a tática de fazer piada com a própria desgraça também vem funcionando muito bem, obrigada.

Além disso, espero não ser a única pessoa do mundo que sorri quando está nervosa e morrendo de vontade de se esvair em lágrimas. E se eu for me perdôo: cada um demonstra (ou esconde) seus sentimentos de uma forma, a minha é apenas a mais idiota de todas.

Também descobri que é impressionante a quantidade de músicas de corno no universo sertanejo. Mas se eu sempre ouvi essas mesmas músicas, porque será que eu só reparei nisso agora? Acho que a gente só dá atenção ao que nos atinge de alguma forma... Ossos do ofício.



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14 de março de 2009

consummatum est

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alguém anotou a placa? a sensação de ter sido atropelada por um Mercedez-Bens LS 1634 me mostra, há algumas horas, como vai ser daqui pra frente.

'daqui pra frente'. agora eu entendo aquela história de que todo fim é um recomeço. o problema é que eu nem sei por onde começar a recolher os cacos...

o fim mais incomensuravelmente singular. surreal, no sentido ruim da palavra. mas é o fim. definitivo, como tudo que [não] é simples.

hoje eu escolho o mais difícil, o mais doloroso e o mais idiota também.
o caminho mais fácil nem sempre é melhor que o da dor...

seguir em frente.
do meu jeito.
até o fim.


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13 de março de 2009

os dois lados

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CARA

duas semanas de 'casa' nova. Uma liberdade relativamente ampla e um shopping a dois quarteirões de casa...


COROA

Meu mundinho cor-de-rosa se tingiu de cinza, o mesmo cinza do céu de Ribeirão nessa sexta-feira sombria. Sexta-feira 13.
Do céu ao inferno em menos de uma semana. De novo.
Mais incompreenssível do que eletromagnetismo. A Vê me perguntou se havia acontecido alguma coisa. Não aconteceu, mas talvez teria sido melhor se tivesse acontecido.
Todo mundo diz que a verdade sempre é o melhor, mas talvez eu sofresse menos com uma mentira bem contada.



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19 de fevereiro de 2009

utopia II

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"Welcome to this place,
I'll show you everything."

Scott Stapp, para o filho.



O menininho da poltrona da frente do ônibus estava decidido a não me deixar dormir. ‘Moça, moça, não dorme não’. Ele se divertiu escondendo o rosto na cortina da janela e abaixando a poltrona até onde a sua força de criança permitia. Uma criança e a mãe dele do lado. Um filho.

Talvez a Medicina tenha ocupado um espaço maior do que deveria. Um sonho não deve sobrepor-se a outro. Um sonho não deve impedir o outro. Médica dedicada, mãe relapsa.

Talvez esteja na hora de aprender que alguns sonhos nunca se realizam.



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