4 de agosto de 2009

café, política e um pouco mais.

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Procuro, em vão, expressões que possam, por ventura, revelar, ainda que superficialmente, a vida em curso e a paixão que arrebata os meus dias.

Diante do vazio significado das palavras banais, entendo, mais uma vez, que algumas coisas não podem – e não devem – ser descritas ou concretamente representadas. É, também, vã a busca pelas explicações racionais para tudo aquilo que foge à consciência. Mais uma vez, tento me despir do vicio vil de tentar entender o que necessita, apenas, ser vivido.

Viver, apenas. Talvez eu não esteja pronta para o hedonismo - as amarras ideológicas mantêm-me presa às convenções, instituições e proibições. E nessa luta diária contra os moralismos banais, entrego-me à força das ondas que me arrebatam para o mar das descobertas.

Permitir-me navegar ao sabor das marés levou-me de volta a velhos portos abandonados no passado. O vento levou-me de encontro às crenças que eu havia guardado no fundo da gaveta da adolescência, argumentando ser, apenas, um devaneio juvenil. Agora, anos mais tarde, o fantasma da utopia volta com força suficiente para convencer-me de que o tempo não é capaz de mudar um ideal.

Talvez caiba delegar os méritos por boa parte dessa força que me impele à vida. Embora eu tenha colaborado com a minha disposição em aceitar o novo, admito minha reles coadjuvância nesse processo. Agradeço, então, por ter sido resgatada do conformismo e por ter sido apresentada a um mundo que parecia estar à minha espera – ou eu à espera dele.

Agradeço também pela companhia, paciência, pelos cafés em tardes vazias, pelos lanches nas madrugadas de debates deliciosamente intermináveis. Agradeço pelas explicações e pelo entusiasmo absolutamente contagiante diante do meu pessimismo de praxe. Agradeço por me fazer, aos poucos, voltar a acreditar que é possível e que eu não estou sozinha. Agradeço pelo carinho, por me chamar de gordinha e por me fazer rir, bagunçando meu cabelo, enquanto me pergunta porque é tão bom estar ali.

Cada vez mais entendo que algumas mudanças são irremediáveis. As escolhas que fiz levaram-me a um novo lugar, meu, longe das amarras que me prendiam ao passado. E, embora mantenha alguns laços que considero impreteríveis e continue acreditando no valor supremo da família, meus passos me levam para longe de casa. Cada vez mais longe, até que eu esqueça o que é lar. Cada vez mais perto de um lugar que é meu.

Ao olhar para trás, vejo, ao longe, lembranças etéreas esvaindo-se no ar seco de agosto e recordações vivas, presas a mim pelo perfume em minhas roupas e pelo sorriso em meu rosto. E ao voltar-me ao horizonte a minha frente, me aquece a alma o calor do sol-vida que desponta na aurora desses novos dias.



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