25 de maio de 2009

Fluoxetina 20mg

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E eu preciso mesmo aprender a controlar essa ansiedade.

E também preciso aprender a lidar melhor com o que está fora do meu controle. Mas não sei se a tática do ‘talvez tenha sido melhor assim/tudo tem seu tempo’ realmente funciona. Quando eu quero alguma coisa, eu quero agora.

Por isso acredito que três semanas é um tempo maior do que o suportável – para não dizer patológico. E essa sensação de estar deixando de viver/aproveitar muita coisa nesse interim é emocionalmente dilacerante...

Três semanas,
acho melhor eu parar de contar.



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24 de maio de 2009

instinto

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E a utopia de ser mãe volta, de tempos em tempos, e me faz repensar sobre a verdadeira dimensão de gerar uma nova vida.

Mas desta vez questionei os outros 50% do zigoto. E percebi que a minha vivência e meu ideal de figura paterna se tornaram verdadeiros beligerantes.

Se me orgulho de dizer 'pai e mãe, ouro de mina', também coloco em xeque a imprescindibilidade da figura masculina. Pela primeira vez repenso o verdadeiro significado do termo 'produção independente'.

Talvez seja uma responsabilidade grande demais ter que escolher um pai para os filhos. Não há nada que garanta a validade dos vínculos marido/mulher. Não a ponto de ser possível compartilhar com outra pessoa a incumbência de gerar, proteger e viabilizar a existência de um filho.

Em tempos de volubilidade emocional, onde o menor vento é capaz de desmanchar os laços entre os casais, não seria sensato condenar uma criança a ligar-se a um pai que pode tornar-se ausente, relapso ou não-afetivo. Os filhos não têm culpa.

E se o homem não é mais o responsável exclusivo pelo sustento das famílias, a figura da mãe-provedora deixou de ser uma utopia. A emancipação feminina está virtualmente completa...

Virtualmente. A perpetuação da espécie ainda depende dos gametas masculinos.

E eu tenho, dentro de casa, a prova maior de que ter um Pai é uma das grandes venturas da vida.

Fato é que minha incredulidade nas relações interpessoais não é capaz de suprimir o instinto materno. E também não vou reduzir [sarcasticamente] a participação masculina a simples detalhe técnico...



Que os anos façam-se luz nesse meu beco sem saída.



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21 de maio de 2009

finados

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Ontem assisti ao jogo do Timão em um bar da rodoviária.
Eu (tomando Tampico) e uns cinco caras bebendo cerveja e falando besteira.

Eles xingaram, vibraram, opinaram e me fizeram dar boas risadas com suas histórias e as expressões de raiva ou alegria toda vez que o Ronaldo pegava na bola.

Fui embora antes do jogo acabar.
O dono do bar teve que fechar mais cedo. Tinham que ir a um velório.

As velhas portas de metal enferrujado baixaram e aqueles homens se foram, cambaleantes, procurar outro lugar pra assistir ao fim do segundo tempo.

Eu fui para o meu ônibus.
Na viagem, morte, vida, futebol e cerveja se misturavam na minha mente absorta pelo sono.

O dono do bar nunca mais vai ver o amigo falecido.
E eu nunca mais vou ver aquelas pessoas que mudaram a minha noite.




Viver é ter aceitar a morte que chega mais perto a cada dia.
E morrer nem sempre é apenas deixar de estar vivo.



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muros

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Nunca fui um poço de cordialidade. Admiro-me até com as amizades que eu consegui conquistar no colegial. Algumas daquelas pessoas merecem um prêmio por me agüentar em todas as manhãs de mau humor e ainda serem meus amigos até hoje...

Hoje vejo que a tendência anti-social, que eu fazia questão de deixar explícita, era apenas um mecanismo de defesa. Eu tinha medo. Medo das pessoas, medo de ser magoada, medo de não ser aceita, medo de ficar sozinha. Para me proteger, fechei-me em copas, construindo muros altos para que ninguém visse quem era, de fato, aquela menina estranha atrás dos óculos...

Poucos conseguiram, verdadeiramente, transpor os muros que ergui. Alguns por insistência; outros, poucos, porque eu permiti. Para esses escolhidos, abri as portas da minha vida, da minha casa, da minha mente e do meu coração. As confidências, as lágrimas, os porres, os filmes, os micos, as tardes na escola, as brigas, as fotos... As mesmas fotos que hoje vejo na parede do meu quarto em Marília.

A Medicina me levou embora e criou barreiras talvez maiores do que os muros que eu outrora construí.
Ainda bem! Aquelas pessoas que estavam realmente próximas ficaram do lado dentro dos muros. Quanto às demais, os muros, a distância, o tempo e a vida se encarregaram de afastar ainda mais de mim.




Não sou de acreditar em destino, mas, na primeira semana de Marília, perdi toda a agenda do meu celular. Hoje, dois meses depois, o meu chip tem apenas os poucos números que eu realmente faço questão de ter. Obra do destino ou simples coincidência, aqueles nomes na minha agenda representam exatamente as amizades que as muralhas da vida ainda não puderam destruir.


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18 de maio de 2009

fugaz

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Quisera eu ter tempo para escrever tudo que penso,
pra treinar tudo que gosto,
pra estudar tudo o que preciso,
pra festejar tudo o que eu mereço
e pra viver tudo o que quero.


Quem determinou que o dia deveria ter apenas 24 horas
nunca teve 19 anos na vida!



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8 de maio de 2009

cultivando utopias

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Na estrada, voltando pra Franca, sonhando acordada com coisas que eu sei que não vão acontecer, o rádio me mostra uma realidade que não quero enxergar.

'Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia'

Por alguns segundos, reprimo meus pensamentos, tentando convencer a mim mesma das verdades que todo mundo diz. Mas acabo por sucumbir às fantasias. Essas divagações sobre um futuro incerto enchem minha alma de uma esperança palpitante e produzem em meu rosto uma expressão de felicidade que as outras pessoas no carro por certo não entenderiam.

Mas a música continua...

'Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora'

Eu fujo. Do carro para o céu anil dessa tarde quente de outono. Mentindo para mim mesma. Feliz com a minha ilusão particular.


A vida lá fora pode esperar.



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