24 de fevereiro de 2010

3ª do singular

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P. vai fazer 20 anos e está precisando de uma aspirina existencial. Expliquei a ela que essas crises são coisas pelas quais todos passam - apesar de odiar essas frases clichês - e que ela deveria sair para se divertir ao invés de ficar em casa se embriagando com suco de goiaba, Beatles e comédias românticas. O problema é que P. não gosta de conselhos, dicas ou qualquer coisa que envolva ou desvende sua fraqueza. Apesar de demonstrar o contrário, P. é sensível às pessoas, aos seus sorrisos forçados, suas alegrias fingidas e suas formas nocivas de amar. Ela nunca teve muitos amigos. Já houve pessoas que disseram a ela que era especial e algumas poucas que demonstraram, sem dizer, que ela realmente é. Já teve muitas decepções, suas primeiras melhores amigas foram as primeiras a abrirem seus olhos em relação à confiança que ela depositava nas pessoas. Mas P. cresceu e conheceu novas amigas que criaram raízes em seu coração, apesar de ainda ter muita dificuldade em confiar em alguém. Adora café, sushi de salmão e chocolate branco. Odeia sorvete de abacaxi. É observadora e distraída. Gosta de ir ao cinema sozinha e cozinhar para si mesma. Tem ciúmes estranhos e é muito autocrítica. É sarcástica e não sabe mentir. Fala demais, chora muito e reclama sempre. Assiste uma meia dúzia de filmes dezenas de vezes e adora repetir as falas dos personagens. Gosta de bandas que ninguém conhece e adora a trilha de Pride & Prejudice. Tem medo de gostar das pessoas e prefere expressar sentimentos escrevendo ao invés de falar. É orgulhosa, mas também capaz de ir atrás de alguém quando sente que vai perdê-la. Tem um blog que usa para publicar algumas coisas que ela considera bobagens, mas que, uma vez ou outra, agradam a alguém que as lê. Está aprendendo a beber cerveja e gosta do cheiro de cigarros que a fazem lembrar de festa. Adora água com gás. Pretende conhecer Buenos Aires e sonha em morar na Itália. Tenta tocar violão. Seus amigos dizem que é anti-social e mal humorada - e ela se orgulha de conservar essas amizades, há anos, mesmo assim. Quando gosta de verdade, é capaz de sacrificar seus próprios desejos e não mede esforços para fazer esse alguém feliz. P. me disse que daqui pra frente vai tentar ser feliz do seu jeito e acha que a aspirina que está precisando tanto já deve estar chegando por aí. E eu acredito, pois se tem uma coisa que ela faz melhor que brigadeiro de panela é recomeçar.

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